Há um risco real nesta história toda. Revelar que as disputas palacianas papais são mundanas quebra uma das pernas da religiosidade, o carisma. Carisma é um toque de Deus. Uma escolha. O Concílio de Trento reafirmou esta Voz que não é a do ser humano. Na prática, o padre, investido de instrumento de Deus, sobe ao púlpito envolto nesta aura. Os católicos estavam preocupadíssimos, naquela quadra do século XVI (1545 a 1563), com o discurso sedutor e individualista dos protestantes para quem seria possível o contato direto daquele que tinha fé com Deus, via leitura da Palavra Divina. A explosão de edições da Bíblia Sagrada desmontava a investidura dos homens da igreja. Lutero sugeria que a frase de Paulo, "o justo viverá pela fé", diminuía as obras originadas da própria fé. Tanto que sua tradução da Bíblia para o alemão incluiu, nesta frase, a palavra "somente". Assim, Deus salvaria o homem sem ação do Espírito Santo.
Debate teológico à parte, o vazamento das relações mundanas entre os operadores políticos do Vaticano, se não estancado, desmistifica a igreja. A escolha do Papa deixa de ser obra do Espírito Santo. A própria existência do Papa seria fruto de disputas intestinas pelo poder e não por um chamado.
O que nos faz pensar que este século XXI vai acelerando o desencantamento do mundo.
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